quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O bonsai que virou árvore


As transformações, um trem, uma vida, um passado e o futuro compartilhados. Todos eles estavam ali por algum motivo, e esse motivo os unia de alguma forma. Mesmo que eles não se conheçam, não se vêem, nem se sintam, estão ligados: você pode acreditar que seja pelo destino ou por qualquer outra coisa. Acredite no que quiser. Você só não pode duvidar.

Acordei atrasado, o desespero tomou conta do meu rosto. Sai apressado: peguei a mala, o envelope com a passagem e partir para a estação de trem. Um novo caminho se abriu em minha frente: minha última chance.

O trem partiu, Pequim ficava para trás, e eu levei mais do que quando eu cheguei. Não era mais aquele funcionário que estava frustrado por ir a China fechar um negócio na empresa ao invés de curtir o carnaval. O que acreditei ser um castigo transformou-se em algum positivo para mim. Há muito havia abandonado minhas origens e renegado meu passado.

Ao meu lado um senhor, aparentando ter seus 65 anos me abordou, disse ser um sensei, realmente ele apresentava ser uma pessoa simples e experiente. Sua conversa me interessou, por instantes abandonei as belas paisagens para focar na conversa daquele senhor, “o velho mestre”.

Contei para ele sobre minhas origens, e a história dos meus avós. Em suas palavras, o que foi mais importante para foi quando disse que a família é o verdadeiro eixo de nossas vidas: quando algo não está bem ninguém pode seguir até que este ente querido seja re-equilibrado. Me disse também que o relacionamento com os outros envolve a responsabilidade, além do equilíbrio pelo bem. Por fim, disse-me que eu precisava ser testado. Por isso, o desafio e as dificuldades, eu precisava ser podado para me tornar forte, ele falava enfaticamente.

Pouco antes da noite cair e do senhor cochilar descobrir que não era mais mais o mesmo, as respostas que tanto busquei se projetavam a minha frente, minhas raízes pareciam ser podadas. Me transformei: o bonsai que virou árvore.

3 comentários:

Alba ... vivendo em busca dos sonhos disse...

Depois de um tempo sem escrever. Retorno para o mais profundo "Oriente". Sem saber, ainda, se "nosso" personagem caminha em direção a seu destino,ou se tudo não foi a mais pura obra do acaso. Em breve, mais revelações, a apresentação dos personagens e o desenrolar de mais uma parte deste "novelo": confuso, turbulento, dúbio e paradoxal.

Raquel Vilela disse...

Supondo que você é todos os personagens, pois todos eles saem da sua cabeça. Não espero um desfecho confuso, turbulento, dúbio e paradoxal. E, sim, surpreendente.

Vinícius Brandão disse...

Sua prosa é fácil e caminha leve como uma pluma. Estar no Oriente já é estar mais perto do que a alma sente. Parabens.