domingo, 26 de outubro de 2008

O relógio




Encontro e desencontros!
O mosaico Chinês.

Não olho para o relógio. Ele corre apressando, mais rápido do que eu. Tentar alcança-lo é besteira. Saio do aeroporto atrasado, se perde este negócio estou despedido. Bem, que o chefe falou que os Chineses gostam de pontualidade, mas a culpa não foi minha. Nem dava pra prever que o vôo seria problemático. Odeio aviões, mas como meus pais me obrigaram a estudar chinês quando mais novo, fui o premiado para estar aqui, para fechar este negócio vital para a empresa. Bom, não foi sem motivos que estudei chinês, minha família tem uma longa ligação com esse povo. Meus bisavós partiram daqui e foram para o Brasil há tempos atrás. Mas é melhor correr antes que perca esta negociação e o meu pescoço.

Não olho para o relógio. Ele corre apressando, mais rápido do que eu. Tentar alcança-lo é besteira. Não sei porque mais tenho paixão por relógios. Sempre gostei de coisas não muito comuns pra nós. Minha irmã sempre apreciava coisas diferentes, as brincadeiras, as roupas. Sempre tive dificuldades em tudo. Até me mudar para Pequim. Foi muito difícil para os meus pais quando me mudei, principalmente, porque era desejo deles que ficasse com eles e cuidasse da terra. Foi árduo mostrar que meu futuro não estava ali. Precisava alçar vôos mais altos.

Olho para o relógio. Ele corre apressado. A reunião começa em 15 minutos. O chefe pergunta pela quinta vez se o brasileiro já chegou. Percebo que começa a se irritar. Levanto, vou até a janela. A vista daqui é tão bonita. Pequim fica mais bela e imponente a cada dia. Me faz lembrar de Makurazaki - 枕崎市, minha cidade de origem, localizada na província de Kagoshima no Japão. Com seus 25. 772 habitantes perde para Pequim que já chega a 17 milhões. Começo a pensar no brasileiro e procuro visualizar seu pais. Só escuto o tic tac do relógio. A sala está vazia. Todos estão preocupados com a reunião.

Não tem relógio na sala, nem em nenhum outro cômodo da sala. A maioria das pessoas aqui não se preocupam com o tempo. E relógio é uma coisa muita rara por aqui. Mesmo sem o tic tac, o tempo faz se rei e comanda tudo. As atividades com a terra são mais desgastantes. Na cidade o tempo faz se muito mais imponente. Aqui o relógio é só um acessório que passa despercebido.

O relógio marca as horas e define nosso dia. Temos que nos programar de acordo com o senhor do tempo. E as horas, vão moldando nossas vidas, nossos caminhos. Destinos, vidas, pessoas, horas e relógios. Caminhos que se cruzam que fogem. Enigmas, labirintos. Verdades, mentiras. O jogo. Frio, tempestade, vendaval. Horas, minutos, segundos. Um quarto de vida. Nada mal.


2 comentários:

Unknown disse...

bem interessante sua observação acerca da passagem do tempo... um verdadeiro rei, naum eh?

adorei a narrativa... muito bem elaborada e bastante curiosa.

parabéns pela genialidade!

Unknown disse...

Faço das palavras do Jairo minhas palavras! Narrativa genial!

Infelizmente somos escravos do tempo, sem tempo! e tendemos a sê-lo cada vez mais...

Somos escravos dessa proposta de mundo que não nos dá a oportunidade de inspirar e expirar, que regula cada passo da nossa vida a partir das horas. As horas em que acordamos, as horas em que vamos para o trabalho, as horas em que almoçamos, as horas em que dormimos...

E assim como outras coisas, o tempo tb é algo que não volta atrás. Então nada melhor que viver a vida, cada hora, cada minuto, cada segundo. Intensamente!